domingo, 31 de outubro de 2010

A Tristeza Permitida - Texto de Martha Medeiros



Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair pra compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?
Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.
Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.
A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.
Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas.
Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não me importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago da razão/ eu ando tão down...” Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la,  e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.
Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos.


terça-feira, 26 de outubro de 2010

João e Maria

Chico Buarque
Composição: Chico Buarque/ Sivuca

Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava o rock para as matinês

Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz
E você era a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país

Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião
O seu bicho preferido
Vem, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido

Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?

EU TE AMO



Composição: Tom Jobim & Chico Buarque

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Se chorei ou se sorri o importante é que emoções eu vivi!!!


Bem, nesse momento o leitor deve estar pensando que brega o título que escolhi. Mas saibam todos que realmente SOU CAFONA e não tenho medo de assumir isso publicamente! Alguns me consideram um ser com uma visão muito romântica da vida. Outros me acham uma pessoa fria...Mais uma prova de que realmente não devemos nos nortear pelas opiniões alheias.

O final do ano se aproxima e junto dele novos objetivos serão traçados para 2010. É o mundo vai girando cada vez mais veloz. E em alguns momentos sinto-me engolida por toda essa agilidade do tempo. Mas procuro atentar ao positivo, que isso é um sinal que as minhas atividades estão aumentando. E se estou produzindo intelectualmente significa que ando evoluindo significativamente.

Não há dúvidas de que 2009 foi um ano de muito aprendizado. Me aperfeiçoei profissionalmente, emagreci, potencializei minha auto-estima, vivi intensamente cada segundo, fiz novos amigos e também tive que abrir mão de pessoas muito especiais. Aliás, gostaria de ressaltar aqui minha saudade dos que se foram e daqueles que precisei deixar para trás por escolha minha. “Daqueles que não entendemos as atitudes, precisamos compreender as razões”.

Meu objetivo para 2010 é continuar errando, acertando, chorando, sorrindo, amando, chegando e partindo. Enfim, aprendendo com todas as experiências e assim evoluindo como ser humano... Tenho consciência de não sou a melhor pessoa do mundo (e não é essa a minha intenção), mas das piores com certeza não!

Contudo, não ficarei aqui conjecturando, pois 2009 ainda não terminou. Ainda temos 41 dias pela frente. Muita coisa ainda pode acontecer. Só nos resta esperar, quer dizer, fazer acontecer. A vida é uma caixinha de surpresas( rsrsrs não disse que eu era cafona)! E o futuro pertence apenas aqueles que não passam como meros espectadores pela vida...Então vivamos nosso presente engajados em fazer cada mometo valer à pena!

Um excelente final de ano para todos nós!

Perspectiva Rio 2016





Um dia desses, após uma atarefada rotina de trabalho, cheguei em casa com um único objetivo, uma boa noite de sono. Mas antes de me atirar na cama, resolvi me informar sobre os acontecimentos em pauta. Uma enxurrada de notícias saltou da minha tela. Eram diversos assuntos com todos os seus desdobramentos e repercussões. Tanta informação desconexa que tornou-se impossível absorvê-las. Foi então que o que antes era apenas um objetivo concretizou-se.

Mal me deitei e um sono profundo se apropriou do meu ser. Derrepente quando me dei conta acordara em plena Avenida Brasil, cujo transito de veículos parecia-me tão calmo, que cheguei a cogitar tratar-se de um feriado. Observei que uma nova pista havia sido construída acima do local, algo que aproximava-se de um viaduto. Não consegui compreender tais mudanças e a agilidade das construções, visto que no dia anterior não havia qualquer menção de obra. Perplexa com a nova estrutura, decidi recorrer aos meios de comunicação.

Notei que as manchetes dos grandes jornais de circulação foram tomadas por um súbito patriotismo, algo incomum no Brasil. Comentava-se sobre a expansão das redes ferroviárias e metroviárias, além da reestruturação da Avenida Brasil. Sem dúvidas tudo estava diferente. Até mesmo a rede Hoteleira, que foi ampliada em 30%.

Pelas ruas da Cidade haviam bandeiras hasteadas e pessoas vestidas com as cores nacionais por toda a parte. Foi então que me percebi inserida no ano de 2016, em plena Olimpíada sediada no Rio. Não consegui conter meus questionamentos, pois na noite anterior me lembro de ter lido qualquer coisa sobre projetos de infra-estrutura ainda em maquetes. Porém, sete anos já haviam se passado e pude constatar inúmeras melhorias à vida urbana.

Em contraponto observei que os postos de trabalho foram ocupados por estrangeiros de diferentes nacionalidades. No entanto, recordo-me que o plano estratégico do evento esportivo previa a criação de cerca de 130 mil novos empregos por ano. Me propus a procurar tais respostas nos jornais. E para meu espanto havia apenas uma nota localizada em uma página de pouco destaque. O colunista esboçava sua opinião, pontuando que em função do investimento de bilhões de dólares apenas nas Olimpíadas, grande fatia da verba para educação foi retirada. Conclusão, novas oportunidades de empregos estavam disponíveis no país, porém, a mão de obra qualificada era insuficiente para suprir a demanda do mercado.

Eis que de repente, não mais que de repente, ouço ao longe uma voz estridente que dizia: Acorda! Acorda! Já está na hora de acordar. Foi então que despertei-me. Desta vez eu realmente estava em minha cama. Ufa, era apenas um sonho! Ainda estava em Novembro de 2009. Não sei ao certo se concretizei meu objetivo de obter uma boa noite de sono. Mas tudo o que sei, é que até hoje continuo refletindo sobre aquelas informações.

Penso que sem dúvidas, até 2016 o Rio de Janeiro galgará inúmeras melhorias, se consolidados os planos das esferas políticas brasileiras. E vale ressaltar que o governo tem pela frente o desafio de oferecer reais condições para a Cidade Maravilhosa sediar os jogos Olímpicos, além de disponibilizar uma educação mais qualificada para todos. Afinal, a construção do futuro começa agora.

E como será o amanhã? Bem, responda quem puder!